18.º Encontro Nacional de Comissões de Trabalhadores

Reafirmação da unidade <br> para a acção

Cerca de 170 tra­ba­lha­dores em re­pre­sen­tação de 60 Co­mis­sões e Sub-co­mis­sões de Tra­ba­lha­dores (CT) rei­te­raram, dia 10, no 18.º En­contro Na­ci­onal, a dis­po­ni­bi­li­dade da­quelas es­tru­turas re­pre­sen­ta­tivas para a luta, a pro­moção da uni­dade e da con­ver­gência com o mo­vi­mento sin­dical uni­tário.

«Os tra­ba­lha­dores sabem o que querem e estão unidos»

Pesem as di­fi­cul­dades co­lo­cadas pela ofen­siva an­ti­la­boral pro­ta­go­ni­zada por su­ces­sivos go­vernos, a vi­ta­li­dade do mo­vi­mento das CT é um dos ele­mentos que so­bressai da reu­nião re­a­li­zada em Vila Nova de Fa­ma­licão, na pas­sada sexta-feira. Disso é prova o facto de a al­te­ração da sala do Centro de Artes ini­ci­al­mente pre­vista para a re­a­li­zação do En­contro Na­ci­onal ter obri­gado a co­missão or­ga­ni­za­dora a apelar à des­lo­cação de um menor nú­mero de mem­bros por CT e Sub-CT, ex­pli­caram, em con­versa com o Avante!, Er­nesto Fer­reira e Jorge Ca­na­delo, da CT da Exide (ex-Tudor) e da CT da Caixa Geral de De­pó­sitos, res­pec­ti­va­mente.

Ambos, mem­bros da es­tru­tura pro­mo­tora do En­contro, su­bli­nharam por isso não apenas o ele­vado nível de par­ti­ci­pação como o con­teúdo das 28 in­ter­ven­ções pro­fe­ridas. Em des­taque, igual­mente, a uni­dade re­ve­lada no di­ag­nós­tico da si­tu­ação em que vivem e tra­ba­lham os tra­ba­lha­dores, em re­lação aos con­di­ci­o­na­mentos à acção das CT, e quanto ao quadro geral da acção rei­vin­di­ca­tiva e pers­pec­tivas para o de­sen­vol­vi­mento da re­sis­tência e da luta, tendo sido apro­vados, por una­ni­mi­dade e acla­mação, todos os do­cu­mentos co­lo­cados à dis­cussão (ver caixas).

Uni­dade que Er­nesto Fer­reira atribui ao facto de o de­bate se ter ini­ciado se­manas antes, com o envio a todas as CT do do­cu­mento base para o En­contro, re­a­li­zado sob o lema «Unidos pelo tra­balho com di­reitos. Afirmar Abril».

A pre­o­cu­pação em en­volver o maior nú­mero de tra­ba­lha­dores na ini­ci­a­tiva e no de­bate dos seus con­teúdos é não apenas no­tável no ac­tual con­texto, como re­a­firma que estas es­tru­turas «são dos tra­ba­lha­dores e para os tra­ba­lha­dores», visam fo­mentar a sua uni­dade e a con­ver­gência com o mo­vi­mento sin­dical, acres­centou Er­nesto Fer­reira, para quem esta é uma questão cen­tral.

 

O trigo e o joio

 

A ten­ta­tiva de co­locar as CT a usur­parem com­pe­tên­cias do mo­vi­mento sin­dical é, aliás, uma linha de ori­en­tação que Er­nesto Fer­reira e Jorge Ca­na­delo iden­ti­ficam po­li­ti­ca­mente com os par­tidos res­pon­sá­veis pela po­lí­tica de di­reita (mas não só, o Bloco de Es­querda chegou a apre­sentar na As­sem­bleia da Re­pú­blica um pro­jecto nesse sen­tido, lem­braram), e cujos ob­jec­tivos são há muito co­nhe­cidos. Tem as sua raiz, aliás, no pe­ríodo da di­ta­dura fas­cista, quando o pa­tro­nato pro­curou pro­mover as cha­madas «co­mis­sões de em­presa» por con­tra­po­sição às «co­mis­sões de uni­dade», das quais as Co­mis­sões de Tra­ba­lha­dores são le­gí­timas her­deiras, re­su­miram.

Ac­tu­al­mente, a im­po­sição dessa linha teria graves con­sequên­cias, no­me­a­da­mente na «do­mes­ti­cação» das CT por parte do pa­tro­nato, que sempre pre­tendeu que se de­mi­tissem do «campo de ba­talha de classe que par­ti­lham com o mo­vi­mento sin­dical», re­alçou Er­nesto Fer­reira. Acresce que as CT pas­sa­riam a des­con­cen­trar-se do papel que lhes com­pete, no­me­a­da­mente exer­cerem o di­reito à in­for­mação sobre as ori­en­ta­ções e actos de gestão das em­presas, con­tro­larem essa mesma po­lí­tica e me­didas, «es­cla­re­cerem, mo­bi­li­zarem e en­ca­mi­nharem os tra­ba­lha­dores para a luta e a con­ver­gência com o mo­vi­mento sin­dical uni­tário», in­sistiu, por seu lado, Jorge Ca­na­delo.

Jorge Ca­na­delo re­cordou ainda que nou­tros en­con­tros de CT, tra­ba­lha­dores do sector fi­nan­ceiro mem­bros de CT que lá par­ti­ci­param, per­ce­beram que os pro­blemas e ata­ques de que são alvo são, afinal, co­muns a vá­rias em­presas e sec­tores. «Saíram mo­ti­vados para lu­tarem» e en­ri­que­cidos «pela troca de ex­pe­ri­ên­cias». Daí que, na sua opi­nião, o sen­tido seja o de pros­se­guir a pro­moção da uni­dade e não o da de­sa­gre­gação em co­or­de­na­doras de sector pro­fis­si­onal ou es­tru­turas que dis­tingam entre CT do pú­blico e do pri­vado, como as mesmas forças po­lí­ticas an­te­ri­or­mente re­fe­ridas também pre­tendem.

«O papel es­pe­cí­fico das CT é de­fen­derem os tra­ba­lha­dores, evi­tarem que de­ci­sões da ad­mi­nis­tração po­nham em causa as em­presas, os postos de tra­balho e os di­reitos. In­ter­virem, fa­zerem a di­fe­rença exi­gindo a in­for­mação a que têm di­reito por lei», mas se se voltam ex­clu­si­va­mente para dentro de uma em­presa ou sector, ficam sempre «mais fra­gi­li­zadas na re­lação de­si­gual com o pa­tro­nato», afirmou.

Jorge Ca­na­delo ma­ni­festou-se contra di­vi­sões que sirvam apenas para «pa­lanque» de certos ora­dores. Er­nesto Fer­reira con­corda e su­blinha que a ex­pe­ri­ência con­creta das CT, sendo es­paços abran­gentes onde cabem sen­si­bi­li­dades po­lí­ticas, sin­di­cais ou ide­o­ló­gicas di­versas, re­vela a exis­tência de bons exem­plos de co­or­de­nação, mesmo entre CT do mesmo sector, caso do su­ce­dido «nos trans­portes face ao ob­jec­tivo pri­va­ti­zador, no­me­a­da­mente em Lisboa e no Porto». Mas re­fere, no en­tanto, que aqui vi­sava-se a acção, a uni­dade, a luta e a con­ver­gência com o mo­vi­mento sin­dical uni­tário, não a de­su­nião, dis­persão de es­tru­turas e o es­va­zi­a­mento das co­or­de­na­doras re­gi­o­nais de CT para cons­ti­tuir «as­so­ci­a­ções».

Nesse sen­tido, o En­contro Na­ci­onal deu res­postas «con­sis­tentes e só­lidas», de­mons­trando que «os tra­ba­lha­dores sabem o que querem, sabem o que re­jeitam e estão unidos», frisou ainda Jorge Ca­na­delo, antes de notar que essa mesma uni­dade e de­ter­mi­nação para a luta ex­pressou-se na marcha que os par­ti­ci­pantes do En­contro Na­ci­onal pro­mo­veram, findos os tra­ba­lhos, pelas ruas de Fa­ma­licão, e à qual não ficou in­di­fe­rente a po­pu­lação da ci­dade, re­la­taram.

 

Re­pressão

Num En­contro em que foi apro­vada uma moção sobre «Os tra­ba­lha­dores e a luta pela paz», os par­ti­ci­pantes vo­taram igual­mente por una­ni­mi­dade um texto re­la­tivo à re­pressão contra as or­ga­ni­za­ções re­pre­sen­ta­tivas dos tra­ba­lha­dores, mo­vida pelo pa­tro­nato com o apoio do Go­verno «em clara vi­o­lação das normas que regem a de­mo­cracia e o di­reito de li­ber­dade de or­ga­ni­zação dos tra­ba­lha­dores, pre­vistos na Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa».

Per­se­gui­ções e in­ti­mi­da­ções que visam afastar tem­po­ra­ri­a­mente da em­presa, con­di­ci­onar, des­mo­tivar, amor­daçar e ame­drontar «ho­mens e mu­lheres que de­fendem os di­reitos e in­te­resses da­queles que os ele­geram – os tra­ba­lha­dores», e des­truir a sua or­ga­ni­zação re­pre­sen­ta­tiva.

Assim, os par­ti­ci­pantes no En­contro Na­ci­onal ma­ni­fes­taram «a sua so­li­da­ri­e­dade para com os mem­bros das CT e Sub-CT que têm sido alvo da per­se­guição mo­vida pela en­ti­dade pa­tronal», e as­sumem, «em si­tu­a­ções fu­turas, uma mais ex­pres­siva e ma­te­rial so­li­da­ri­e­dade» para com estes.

 

De­sen­volver a luta

«Ante os su­ces­sivos ata­ques do Go­verno e do pa­tro­nato à le­gis­lação la­boral, à con­tra­tação co­lec­tiva, aos di­reitos, aos sa­lá­rios e con­di­ções de tra­balho» dos tra­ba­lha­dores, e face à in­tenção de impor-lhes a re­sig­nação para com o au­mento da ex­plo­ração, das in­jus­tiças e do em­po­bre­ci­mento, e o rumo de re­tro­cesso so­cial em curso, os mem­bros das CT apro­varam, por una­ni­mi­dade, uma moção sobre «O de­sen­vol­vi­mento da luta» e a re­so­lução cen­tral do En­contro, nas quais se com­pro­metem a con­ti­nuar a exigir a va­lo­ri­zação do tra­balho e dos tra­ba­lha­dores através:

  • Do au­mento geral dos sa­lá­rios vi­sando a re­po­sição do poder de compra, do au­mento do Sa­lário Mí­nimo para 540 euros em Ja­neiro de 2015 e 600 euros em Ja­neiro de 2016, e da di­mi­nuição da carga fiscal sobre os tra­ba­lha­dores;

  • Re­dução do ho­rário de tra­balho para 35 horas se­ma­nais e pas­sagem a efec­tivos dos tra­ba­lha­dores com vín­culos pre­cá­rios em ta­refas de ca­rácter per­ma­nente;

  • Re­po­sição do pa­ga­mento do tra­balho ex­tra­or­di­nário e do des­canso com­pen­sa­tório, bem como dos fe­ri­ados rou­bados;

  • Com­bater a dis­cri­mi­nação e de­fender o exer­cício dos di­reitos dos mem­bros das ORT;

  • Es­cru­pu­loso cum­pri­mento da le­gis­lação sobre pre­venção e eli­mi­nação dos riscos pro­fis­si­o­nais e re­vo­gação das normas gra­vosas do Có­digo do Tra­balho;

  • Di­na­mi­zação do sector pro­du­tivo e me­lhoria dos ser­viços pú­blicos, in­ter­rupção das pri­va­ti­za­ções e re­toma para o con­trole pú­blico das em­presas fun­da­men­tais ao de­sen­vol­vi­mento do País.



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